tag:blogger.com,1999:blog-53085350169671514772024-02-08T09:53:32.187-08:00oiJulia Lemoshttp://www.blogger.com/profile/14593618660413328268noreply@blogger.comBlogger1125tag:blogger.com,1999:blog-5308535016967151477.post-25978891670555636032016-11-08T14:39:00.002-08:002016-11-08T14:39:32.478-08:00A essência timbira<div align="CENTER">
I-Juca Pirama</div>
<blockquote align="CENTER" style="-webkit-text-stroke-width: 0px; color: black; font-family: "Times New Roman"; font-size: medium; font-style: normal; font-variant-caps: normal; font-variant-ligatures: normal; font-weight: normal; letter-spacing: normal; orphans: 2; text-indent: 0px; text-transform: none; white-space: normal; widows: 2; word-spacing: 0px;">
<span style="font-family: Bookman Old Style; font-size: x-small;"><div align="center">
No meio das tabas de amenos verdores,<br />Cercadas de troncos - cobertos de flores,<br />Alteiam-se os tetos d’altiva nação;<br />São muitos seus filhos, nos ânimos fortes,<br />Temíveis na guerra, que em densas coortes<br />Assombram das matas a imensa extensão.</div>
</span></blockquote>
<div align="center" style="-webkit-text-stroke-width: 0px; color: black; font-family: "Times New Roman"; font-size: medium; font-style: normal; font-variant-caps: normal; font-variant-ligatures: normal; font-weight: normal; letter-spacing: normal; orphans: 2; text-indent: 0px; text-transform: none; white-space: normal; widows: 2; word-spacing: 0px;">
<blockquote align="CENTER">
<span style="font-family: Bookman Old Style; font-size: x-small;">São rudos, severos, sedentos de glória,<br />Já prélios incitam, já cantam vitória,<br />Já meigos atendem à voz do cantor:<br />São todos Timbiras, guerreiros valentes!<br />Seu nome lá voa na boca das gentes,<br />Condão de prodígios, de glória e terror!</span></blockquote>
<blockquote align="CENTER">
<span style="font-family: Bookman Old Style; font-size: x-small;">As tribos vizinhas, sem forças, sem brio,<br />As armas quebrando, lançando-as ao rio,<br />O incenso aspiraram dos seus maracás:<br />Medrosos das guerras que os fortes acendem,<br />Custosos tributos ignavos lá rendem,<br />Aos duros guerreiros sujeitos na paz.</span></blockquote>
<blockquote align="CENTER">
<span style="font-family: Bookman Old Style; font-size: x-small;">No centro da taba se estende um terreiro,<br />Onde ora se aduna o concílio guerreiro<br />Da tribo senhora, das tribos servis:<br />Os velhos sentados praticam d’outrora,<br />E os moços inquietos, que a festa enamora,<br />Derramam-se em torno dum índio infeliz.</span></blockquote>
<blockquote align="CENTER">
<span style="font-family: Bookman Old Style; font-size: x-small;">Quem é? - ninguém sabe: seu nome é ignoto,<br />Sua tribo não diz: - de um povo remoto<br />Descende por certo - dum povo gentil;<br />Assim lá na Grécia ao escravo insulano<br />Tornavam distinto do vil muçulmano<br />As linhas corretas do nobre perfil.</span></blockquote>
<blockquote align="CENTER">
<span style="font-family: Bookman Old Style; font-size: x-small;">Por casos de guerra caiu prisioneiro<br />Nas mãos dos Timbiras: - no extenso terreiro<br />Assola-se o teto, que o teve em prisão;<br />Convidam-se as tribos dos seus arredores,<br />Cuidosos se incubem do vaso das cores,<br />Dos vários aprestos da honrosa função.</span></blockquote>
<blockquote align="CENTER">
<span style="font-family: Bookman Old Style; font-size: x-small;">Acerva-se a lenha da vasta fogueira<br />Entesa-se a corda da embira ligeira,<br />Adorna-se a maça com penas gentis:<br />A custo, entre as vagas do povo da aldeia<br />Caminha o Timbira, que a turba rodeia,<br />Garboso nas plumas de vário matiz.</span></blockquote>
<blockquote align="CENTER">
<span style="font-family: Bookman Old Style; font-size: x-small;">Em tanto as mulheres com leda trigança,<br />Afeitas ao rito da bárbara usança,<br />índio já querem cativo acabar:<br />A coma lhe cortam, os membros lhe tingem,<br />Brilhante enduape no corpo lhe cingem,<br />Sombreia-lhe a fronte gentil canitar,</span></blockquote>
</div>
<h2 align="center" style="-webkit-text-stroke-width: 0px; color: black; font-family: "Times New Roman"; font-style: normal; font-variant-caps: normal; font-variant-ligatures: normal; letter-spacing: normal; orphans: 2; text-indent: 0px; text-transform: none; white-space: normal; widows: 2; word-spacing: 0px;">
<span style="font-family: Bookman Old Style; font-size: x-small;">II</span></h2>
<div align="center" style="-webkit-text-stroke-width: 0px; color: black; font-family: "Times New Roman"; font-size: medium; font-style: normal; font-variant-caps: normal; font-variant-ligatures: normal; font-weight: normal; letter-spacing: normal; orphans: 2; text-indent: 0px; text-transform: none; white-space: normal; widows: 2; word-spacing: 0px;">
<blockquote align="CENTER">
<span style="font-family: Bookman Old Style; font-size: x-small;">Em fundos vasos d’alvacenta argila<br />Ferve o cauim;<br />Enchem-se as copas, o prazer começa,<br />Reina o festim.</span></blockquote>
<blockquote align="CENTER">
<span style="font-family: Bookman Old Style; font-size: x-small;">O prisioneiro, cuja morte anseiam,<br />Sentado está,<br />O prisioneiro, que outro sol no ocaso<br />Jamais verá!</span></blockquote>
<blockquote align="CENTER">
<span style="font-family: Bookman Old Style; font-size: x-small;">A dura corda, que lhe enlaça o colo,<br />Mostra-lhe o fim<br />Da vida escura, que será mais breve<br />Do que o festim!</span></blockquote>
<blockquote align="CENTER">
<span style="font-family: Bookman Old Style; font-size: x-small;">Contudo os olhos d’ignóbil pranto<br />Secos estão;<br />Mudos os lábios não descerram queixas<br />Do coração.</span></blockquote>
<blockquote align="CENTER">
<span style="font-family: Bookman Old Style; font-size: x-small;">Mas um martírio , que encobrir não pode,<br />Em rugas faz<br />A mentirosa placidez do rosto<br />Na fronte audaz!</span></blockquote>
<blockquote align="CENTER">
<span style="font-family: Bookman Old Style; font-size: x-small;">Que tens, guerreiro? Que temor te assalta<br />No passo horrendo?<br />Honra das tabas que nascer te viram,<br />Folga morrendo.</span></blockquote>
<blockquote align="CENTER">
<span style="font-family: Bookman Old Style; font-size: x-small;">Folga morrendo; porque além dos Andes<br />Revive o forte,<br />Que soube ufano contrastar os medos<br />Da fria morte.</span></blockquote>
<blockquote align="CENTER">
<span style="font-family: Bookman Old Style; font-size: x-small;">Rasteira grama, exposta ao sol, à chuva,<br />Lá murcha e pende:<br />Somente ao tronco, que devassa os ares,<br />O raio ofende!</span></blockquote>
<blockquote align="CENTER">
<span style="font-family: Bookman Old Style; font-size: x-small;">Que foi? Tupã mandou que ele caísse,<br />Como viveu;<br />E o caçador que o avistou prostrado<br />Esmoreceu!</span></blockquote>
<blockquote align="CENTER">
<span style="font-family: Bookman Old Style; font-size: x-small;">Que temes, ó guerreiro? Além dos Andes<br />Revive o forte,<br />Que soube ufano contrastar os medos<br />Da fria morte.</span></blockquote>
</div>
<h2 align="center" style="-webkit-text-stroke-width: 0px; color: black; font-family: "Times New Roman"; font-style: normal; font-variant-caps: normal; font-variant-ligatures: normal; letter-spacing: normal; orphans: 2; text-indent: 0px; text-transform: none; white-space: normal; widows: 2; word-spacing: 0px;">
<span style="font-family: Bookman Old Style; font-size: x-small;">III</span></h2>
<div align="center" style="-webkit-text-stroke-width: 0px; color: black; font-family: "Times New Roman"; font-size: medium; font-style: normal; font-variant-caps: normal; font-variant-ligatures: normal; font-weight: normal; letter-spacing: normal; orphans: 2; text-indent: 0px; text-transform: none; white-space: normal; widows: 2; word-spacing: 0px;">
<blockquote align="CENTER">
<span style="font-family: Bookman Old Style; font-size: x-small;">Em larga roda de novéis guerreiros<br />Ledo caminha o festival Timbira,<br />A quem do sacrifício cabe as honras,<br />Na fronte o canitar sacode em ondas,<br />O enduape na cinta se embalança,<br />Na destra mão sopesa a iverapeme,<br />Orgulhoso e pujante. - Ao menor passo<br />Colar d’alvo marfim, insígnia d’honra,<br />Que lhe orna o colo e o peito, ruge e freme,<br />Como que por feitiço não sabido<br />Encantadas ali as almas grandes<br />Dos vencidos Tapuias, inda chorem<br />Serem glória e brasão d’imigos feros.</span></blockquote>
<blockquote align="CENTER">
<span style="font-family: Bookman Old Style; font-size: x-small;">"Eis-me aqui", diz ao índio prisioneiro;<br />"Pois que fraco, e sem tribo, e sem família,<br />"As nossas matas devassaste ousado,<br />"Morrerás morte vil da mão de um forte."</span></blockquote>
<blockquote align="CENTER">
<span style="font-family: Bookman Old Style; font-size: x-small;">Vem a terreiro o mísero contrário;<br />Do colo à cinta a muçurana desce:<br />"Dize-nos quem és, teus feitos canta,<br />"Ou se mais te apraz, defende-te." Começa<br />O índio, que ao redor derrama os olhos,<br />Com triste voz que os ânimos comove.</span></blockquote>
</div>
<h2 align="center" style="-webkit-text-stroke-width: 0px; color: black; font-family: "Times New Roman"; font-style: normal; font-variant-caps: normal; font-variant-ligatures: normal; letter-spacing: normal; orphans: 2; text-indent: 0px; text-transform: none; white-space: normal; widows: 2; word-spacing: 0px;">
<span style="font-family: Bookman Old Style; font-size: x-small;">IV</span></h2>
<div align="center" style="-webkit-text-stroke-width: 0px; color: black; font-family: "Times New Roman"; font-size: medium; font-style: normal; font-variant-caps: normal; font-variant-ligatures: normal; font-weight: normal; letter-spacing: normal; orphans: 2; text-indent: 0px; text-transform: none; white-space: normal; widows: 2; word-spacing: 0px;">
<blockquote align="CENTER">
<span style="font-family: Bookman Old Style; font-size: x-small;">Meu canto de morte,<br />Guerreiros, ouvi:<br />Sou filho das selvas,<br />Nas selvas cresci;<br />Guerreiros, descendo<br />Da tribo tupi.</span></blockquote>
<blockquote align="CENTER">
<span style="font-family: Bookman Old Style; font-size: x-small;">Da tribo pujante,<br />Que agora anda errante<br />Por fado inconstante,<br />Guerreiros, nasci;<br />Sou bravo, sou forte,<br />Sou filho do Norte;<br />Meu canto de morte,<br />Guerreiros, ouvi.</span></blockquote>
<blockquote align="CENTER">
<span style="font-family: Bookman Old Style; font-size: x-small;">Já vi cruas brigas,<br />De tribos imigas,<br />E as duras fadigas<br />Da guerra provei;<br />Nas ondas mendaces<br />Senti pelas faces<br />Os silvos fugaces<br />Dos ventos que amei.</span></blockquote>
<blockquote align="CENTER">
<span style="font-family: Bookman Old Style; font-size: x-small;">Andei longes terras<br />Lidei cruas guerras,<br />Vaguei pelas serras<br />Dos vis Aimoréis;<br />Vi lutas de bravos,<br />Vi fortes - escravos!<br />De estranhos ignavos<br />Calcados aos pés.</span></blockquote>
<blockquote align="CENTER">
<span style="font-family: Bookman Old Style; font-size: x-small;">E os campos talados,<br />E os arcos quebrados,<br />E os piagas coitados<br />Já sem maracás;<br />E os meigos cantores,<br />Servindo a senhores,<br />Que vinham traidores,<br />Com mostras de paz.</span></blockquote>
<blockquote align="CENTER">
<span style="font-family: Bookman Old Style; font-size: x-small;">Aos golpes do imigo,<br />Meu último amigo,<br />Sem lar, sem abrigo<br />Caiu junto a mi!<br />Com plácido rosto,<br />Sereno e composto,<br />O acerbo desgosto<br />Comigo sofri.</span></blockquote>
<blockquote align="CENTER">
<span style="font-family: Bookman Old Style; font-size: x-small;">Meu pai a meu lado<br />Já cego e quebrado,<br />De penas ralado,<br />Firmava-se em mi:<br />Nós ambos, mesquinhos,<br />Por ínvios caminhos,<br />Cobertos d’espinhos<br />Chegamos aqui!</span></blockquote>
<blockquote align="CENTER">
<span style="font-family: Bookman Old Style; font-size: x-small;">O velho no entanto<br />Sofrendo já tanto<br />De fome e quebranto,<br />Só qu’ria morrer!<br />Não mais me contenho,<br />Nas matas me embrenho,<br />Das frechas que tenho<br />Me quero valer.</span></blockquote>
<blockquote align="CENTER">
<span style="font-family: Bookman Old Style; font-size: x-small;">Então, forasteiro,<br />Caí prisioneiro<br />De um troço guerreiro<br />Com que me encontrei:<br />O cru dessossêgo<br />Do pai fraco e cego,<br />Enquanto não chego<br />Qual seja, - dizei!</span></blockquote>
<blockquote align="CENTER">
<span style="font-family: Bookman Old Style; font-size: x-small;">Eu era o seu guia<br />Na noite sombria,<br />A só alegria<br />Que Deus lhe deixou:<br />Em mim se apoiava,<br />Em mim se firmava,<br />Em mim descansava,<br />Que filho lhe sou.</span></blockquote>
<blockquote align="CENTER">
<span style="font-family: Bookman Old Style; font-size: x-small;">Ao velho coitado<br />De penas ralado,<br />Já cego e quebrado,<br />Que resta? - Morrer.<br />Enquanto descreve<br />O giro tão breve<br />Da vida que teve,<br />Deixai-me viver!</span></blockquote>
<blockquote align="CENTER">
<span style="font-family: Bookman Old Style; font-size: x-small;">Não vil, não ignavo,<br />Mas forte, mas bravo,<br />Serei vosso escravo:<br />Aqui virei ter.<br />Guerreiros, não coro<br />Do pranto que choro:<br />Se a vida deploro,<br />Também sei morrer.</span></blockquote>
</div>
<h2 align="center" style="-webkit-text-stroke-width: 0px; color: black; font-family: "Times New Roman"; font-style: normal; font-variant-caps: normal; font-variant-ligatures: normal; letter-spacing: normal; orphans: 2; text-indent: 0px; text-transform: none; white-space: normal; widows: 2; word-spacing: 0px;">
<span style="font-family: Bookman Old Style; font-size: x-small;">V</span></h2>
<div align="center" style="-webkit-text-stroke-width: 0px; color: black; font-family: "Times New Roman"; font-size: medium; font-style: normal; font-variant-caps: normal; font-variant-ligatures: normal; font-weight: normal; letter-spacing: normal; orphans: 2; text-indent: 0px; text-transform: none; white-space: normal; widows: 2; word-spacing: 0px;">
<blockquote align="CENTER">
<span style="font-family: Bookman Old Style; font-size: x-small;">Soltai-o! - diz o chefe. Pasma a turba;<br />Os guerreiros murmuram: mal ouviram,<br />Nem pode nunca um chefe dar tal ordem!<br />Brada segunda vez com voz mais alta,<br />Afrouxam-se as prisões, a embira cede,<br />A custo, sim; mas cede: o estranho é salvo.</span></blockquote>
<blockquote align="CENTER">
<span style="font-family: Bookman Old Style; font-size: x-small;">Timbira, diz o índio enternecido,<br />Solto apenas dos nós que o seguravam:<br />És um guerreiro ilustre, um grande chefe,<br />Tu que assim do meu mal te comoveste,<br />Nem sofres que, transposta a natureza,<br />Com olhos onde a luz já não cintila,<br />Chore a morte do filho o pai cansado,<br />Que somente por seu na voz conhece.<br />- És livre; parte.<br />- E voltarei.<br />- Debalde.<br />- Sim, voltarei, morto meu pai.<br />- Não voltes!<br />É bem feliz, se existe, em que não veja,<br />Que filho tem, qual chora: és livre; parte!<br />- Acaso tu supões que me acobardo,<br />Que receio morrer!<br />- És livre; parte!<br />- Ora não partirei; quero provar-te<br />Que um filho dos Tupis vive com honra,<br />E com honra maior, se acaso o vencem,<br />Da morte o passo glorioso afronta.</span></blockquote>
<blockquote align="CENTER">
<span style="font-family: Bookman Old Style; font-size: x-small;">- Mentiste, que um Tupi não chora nunca,<br />E tu choraste!... parte; não queremos<br />Com carne vil enfraquecer os fortes.</span></blockquote>
<blockquote align="CENTER">
<span style="font-family: Bookman Old Style; font-size: x-small;">Sobresteve o Tupi: - arfando em ondas<br />O rebater do coração se ouvia<br />Precípite. - Do rosto afogueado<br />Gélidas bagas de suor corriam:<br />Talvez que o assaltava um pensamento...<br />Já não... que na enlutada fantasia,<br />Um pesar, um martírio ao mesmo tempo,<br />Do velho pai a moribunda imagem<br />Quase bradar-lhe ouvia: - Ingrato! Ingrato!<br />Curvado o colo, taciturno e frio.<br />Espectro d’homem, penetrou no bosque!</span></blockquote>
</div>
<h2 align="center" style="-webkit-text-stroke-width: 0px; color: black; font-family: "Times New Roman"; font-style: normal; font-variant-caps: normal; font-variant-ligatures: normal; letter-spacing: normal; orphans: 2; text-indent: 0px; text-transform: none; white-space: normal; widows: 2; word-spacing: 0px;">
<span style="font-family: Bookman Old Style; font-size: x-small;">VI</span></h2>
<div align="center" style="-webkit-text-stroke-width: 0px; color: black; font-family: "Times New Roman"; font-size: medium; font-style: normal; font-variant-caps: normal; font-variant-ligatures: normal; font-weight: normal; letter-spacing: normal; orphans: 2; text-indent: 0px; text-transform: none; white-space: normal; widows: 2; word-spacing: 0px;">
<blockquote align="CENTER">
<span style="font-family: Bookman Old Style; font-size: x-small;">- Filho meu, onde estás?<br />- Ao vosso lado;<br />Aqui vos trago provisões; tomai-as,<br />As vossas forças restaurai perdidas,<br />E a caminho, e já!<br />- Tardaste muito!<br />Não era nado o sol, quando partiste,<br />E frouxo o seu calor já sinto agora!<br />- Sim demorei-me a divagar sem rumo,<br />Perdi-me nestas matas intrincadas,<br />Reaviei-me e tornei; mas urge o tempo;<br />Convém partir, e já!<br />- Que novos males<br />Nos resta de sofrer? - que novas dores,<br />Que outro fado pior Tupã nos guarda?<br />- As setas da aflição já se esgotaram,<br />Nem para novo golpe espaço intacto<br />Em nossos corpos resta.<br />- Mas tu tremes!<br />- Talvez do afã da caça....<br />- Oh filho caro!<br />Um quê misterioso aqui me fala,<br />Aqui no coração; piedosa fraude<br />Será por certo, que não mentes nunca!<br />Não conheces temor, e agora temes?<br />Vejo e sei: é Tupã que nos aflige,<br />E contra o seu querer não valem brios.<br />Partamos!... -<br />E com mão trêmula, incerta<br />Procura o filho, tacteando as trevas<br />Da sua noite lúgubre e medonha.<br />Sentindo o acre odor das frescas tintas,<br />Uma idéia fatal ocorreu-lhe à mente...<br />Do filho os membros gélidos apalpa,<br />E a dolorosa maciez das plumas<br />Conhece estremecendo: - foge, volta,<br />Encontra sob as mãos o duro crânio,<br />Despido então do natural ornato!...<br />Recua aflito e pávido, cobrindo<br />Às mãos ambas os olhos fulminados,<br />Como que teme ainda o triste velho<br />De ver, não mais cruel, porém mais clara,<br />Daquele exício grande a imagem viva<br />Ante os olhos do corpo afigurada.<br />Não era que a verdade conhecesse<br />Inteira e tão cruel qual tinha sido;<br />Mas que funesto azar correra o filho,<br />Ele o via; ele o tinha ali presente;<br />E era de repetir-se a cada instante.<br />A dor passada, a previsão futura<br />E o presente tão negro, ali os tinha;<br />Ali no coração se concentrava,<br />Era num ponto só, mas era a morte!</span></blockquote>
<blockquote align="CENTER">
<span style="font-family: Bookman Old Style; font-size: x-small;">- Tu prisioneiro, tu?<br />- Vós o dissestes.<br />- Dos índios?<br />- Sim.<br />- De que nação?<br />- Timbiras.<br />- E a muçurana funeral rompeste,<br />Dos falsos manitôs quebrastes maça...<br />- Nada fiz... aqui estou.<br />- Nada! -<br />Emudecem;<br />Curto instante depois prossegue o velho:<br />- Tu és valente, bem o sei; confessa,<br />Fizeste-o, certo, ou já não fôras vivo!<br />- Nada fiz; mas souberam da existência<br />De um pobre velho, que em mim só vivia....<br />- E depois?...<br />- Eis-me aqui.<br />- Fica essa taba?</span></blockquote>
<blockquote align="CENTER">
<span style="font-family: Bookman Old Style; font-size: x-small;">- Na direção do sol, quando transmonta.<br />- Longe?<br />- Não muito.<br />- Tens razão: partamos.<br />- E quereis ir?...<br />- Na direção do acaso.</span></blockquote>
</div>
<h2 align="center" style="-webkit-text-stroke-width: 0px; color: black; font-family: "Times New Roman"; font-style: normal; font-variant-caps: normal; font-variant-ligatures: normal; letter-spacing: normal; orphans: 2; text-indent: 0px; text-transform: none; white-space: normal; widows: 2; word-spacing: 0px;">
<span style="font-family: Bookman Old Style; font-size: x-small;">VII</span></h2>
<div align="center" style="-webkit-text-stroke-width: 0px; color: black; font-family: "Times New Roman"; font-size: medium; font-style: normal; font-variant-caps: normal; font-variant-ligatures: normal; font-weight: normal; letter-spacing: normal; orphans: 2; text-indent: 0px; text-transform: none; white-space: normal; widows: 2; word-spacing: 0px;">
<blockquote align="CENTER">
<span style="font-family: Bookman Old Style; font-size: x-small;">"Por amor de um triste velho,<br />Que ao termo fatal já chega,<br />Vós, guerreiros, concedestes<br />A vida a um prisioneiro.<br />Ação tão nobre vos honra,<br />Nem tão alta cortesia<br />Vi eu jamais praticada<br />Entre os Tupis, - e mas foram<br />Senhores em gentileza.</span></blockquote>
<blockquote align="CENTER">
<span style="font-family: Bookman Old Style; font-size: x-small;">"Eu porém nunca vencido,<br />Nem nos combates por armas,<br />Nem por nobreza nos atos;<br />Aqui venho, e o filho trago.<br />Vós o dizeis prisioneiro,<br />Seja assim como dizeis;<br />Mandai vir a lenha, o fogo,<br />A maça do sacrifício<br />E a muçurana ligeira:<br />Em tudo o rito se cumpra!<br />E quando eu for só na terra,<br />Certo acharei entre os vossos,<br />Que tão gentis se revelam,<br />Alguém que meus passos guie;<br />Alguém, que vendo o meu peito<br />Coberto de cicatrizes,<br />Tomando a vez de meu filho,<br />De haver-me por se ufane!"<br />Mas o chefe dos Timbiras,<br />Os sobrolhos encrespando,<br />Ao velho Tupi guerreiro<br />Responde com tôrvo acento:</span></blockquote>
<blockquote align="CENTER">
<span style="font-family: Bookman Old Style; font-size: x-small;">- Nada farei do que dizes:<br />É teu filho imbele e fraco!<br />Aviltaria o triunfo<br />Da mais guerreira das tribos<br />Derramar seu ignóbil sangue:<br />Ele chorou de cobarde;<br />Nós outros, fortes Timbiras,<br />Só de heróis fazemos pasto. -</span></blockquote>
<blockquote align="CENTER">
<span style="font-family: Bookman Old Style; font-size: x-small;">Do velho Tupi guerreiro<br />A surda voz na garganta<br />Faz ouvir uns sons confusos,<br />Como os rugidos de um tigre,<br />Que pouco a pouco se assanha!</span></blockquote>
</div>
<h2 align="center" style="-webkit-text-stroke-width: 0px; color: black; font-family: "Times New Roman"; font-style: normal; font-variant-caps: normal; font-variant-ligatures: normal; letter-spacing: normal; orphans: 2; text-indent: 0px; text-transform: none; white-space: normal; widows: 2; word-spacing: 0px;">
<span style="font-family: Bookman Old Style; font-size: x-small;">VIII</span></h2>
<div align="center" style="-webkit-text-stroke-width: 0px; color: black; font-family: "Times New Roman"; font-size: medium; font-style: normal; font-variant-caps: normal; font-variant-ligatures: normal; font-weight: normal; letter-spacing: normal; orphans: 2; text-indent: 0px; text-transform: none; white-space: normal; widows: 2; word-spacing: 0px;">
<blockquote align="CENTER">
<span style="font-family: Bookman Old Style; font-size: x-small;">"Tu choraste em presença da morte?<br />Na presença de estranhos choraste?<br />Não descende o cobarde do forte;<br />Pois choraste, meu filho não és!<br />Possas tu, descendente maldito<br />De uma tribo de nobres guerreiros,<br />Implorando cruéis forasteiros,<br />Seres presa de via Aimorés.</span></blockquote>
<blockquote align="CENTER">
<span style="font-family: Bookman Old Style; font-size: x-small;">"Possas tu, isolado na terra,<br />Sem arrimo e sem pátria vagando,<br />Rejeitado da morte na guerra,<br />Rejeitado dos homens na paz,<br />Ser das gentes o espectro execrado;<br />Não encontres amor nas mulheres,<br />Teus amigos, se amigos tiveres,<br />Tenham alma inconstante e falaz!</span></blockquote>
<blockquote align="CENTER">
<span style="font-family: Bookman Old Style; font-size: x-small;">"Não encontres doçura no dia,<br />Nem as cores da aurora te ameiguem,<br />E entre as larvas da noite sombria<br />Nunca possas descanso gozar:<br />Não encontres um tronco, uma pedra,<br />Posta ao sol, posta às chuvas e aos ventos,<br />Padecendo os maiores tormentos,<br />Onde possas a fronte pousar.</span></blockquote>
<blockquote align="CENTER">
<span style="font-family: Bookman Old Style; font-size: x-small;">"Que a teus passos a relva se torre;<br />Murchem prados, a flor desfaleça,<br />E o regato que límpido corre,<br />Mais te acenda o vesano furor;<br />Suas águas depressa se tornem,<br />Ao contacto dos lábios sedentos,<br />Lago impuro de vermes nojentos,<br />Donde fujas com asco e terror!</span></blockquote>
<blockquote align="CENTER">
<span style="font-family: Bookman Old Style; font-size: x-small;">"Sempre o céu, como um teto incendido,<br />Creste e punja teus membros malditos<br />E oceano de pó denegrido<br />Seja a terra ao ignavo tupi!<br />Miserável, faminto, sedento,<br />Manitôs lhe não falem nos sonhos,<br />E do horror os espectros medonhos<br />Traga sempre o cobarde após si.</span></blockquote>
<blockquote align="CENTER">
<span style="font-family: Bookman Old Style; font-size: x-small;">"Um amigo não tenhas piedoso<br />Que o teu corpo na terra embalsame,<br />Pondo em vaso d’argila cuidoso<br />Arco e frecha e tacape a teus pés!<br />Sê maldito, e sozinho na terra;<br />Pois que a tanta vileza chegaste,<br />Que em presença da morte choraste,<br />Tu, cobarde, meu filho não és."</span></blockquote>
</div>
<h2 align="center" style="-webkit-text-stroke-width: 0px; color: black; font-family: "Times New Roman"; font-style: normal; font-variant-caps: normal; font-variant-ligatures: normal; letter-spacing: normal; orphans: 2; text-indent: 0px; text-transform: none; white-space: normal; widows: 2; word-spacing: 0px;">
<span style="font-family: Bookman Old Style; font-size: x-small;">IX</span></h2>
<div align="center" style="-webkit-text-stroke-width: 0px; color: black; font-family: "Times New Roman"; font-size: medium; font-style: normal; font-variant-caps: normal; font-variant-ligatures: normal; font-weight: normal; letter-spacing: normal; orphans: 2; text-indent: 0px; text-transform: none; white-space: normal; widows: 2; word-spacing: 0px;">
<blockquote align="CENTER">
<span style="font-family: Bookman Old Style; font-size: x-small;">Isto dizendo, o miserando velho<br />A quem Tupã tamanha dor, tal fado<br />Já nos confins da vida reservada,<br />Vai com trêmulo pé, com as mãos já frias<br />Da sua noite escura as densas trevas<br />Palpando. - Alarma! alarma! - O velho pára!<br />O grito que escutou é voz do filho,<br />Voz de guerra que ouviu já tantas vezes<br />Noutra quadra melhor. - Alarma! alarma!<br />- Esse momento só vale a pagar-lhe<br />Os tão compridos trances, as angústias,<br />Que o frio coração lhe atormentaram</span></blockquote>
<blockquote align="CENTER">
<span style="font-family: Bookman Old Style; font-size: x-small;">De guerreiro e de pai: - vale, e de sobra.<br />Ele que em tanta dor se contivera,<br />Tomado pelo súbito contraste,<br />Desfaz-se agora em pranto copioso,<br />Que o exaurido coração remoça.</span></blockquote>
<blockquote align="CENTER">
<span style="font-family: Bookman Old Style; font-size: x-small;">A taba se alborota, os golpes descem,<br />Gritos, imprecações profundas soam,<br />Emaranhada a multidão braveja,<br />Revolve-se, enovela-se confusa,<br />E mais revolta em mor furor se acende.<br />E os sons dos golpes que incessantes fervem,<br />Vozes, gemidos, estertor de morte<br />Vão longe pelas ermas serranias<br />Da humana tempestade propagando<br />Quantas vagas de povo enfurecido<br />Contra um rochedo vivo se quebravam.</span></blockquote>
<blockquote align="CENTER">
<span style="font-family: Bookman Old Style; font-size: x-small;">Era ele, o Tupi; nem fora justo<br />Que a fama dos Tupis - o nome, a glória,<br />Aturado labor de tantos anos,<br />Derradeiro brasão da raça extinta,<br />De um jacto e por um só se aniquilasse.</span></blockquote>
<blockquote align="CENTER">
<span style="font-family: Bookman Old Style; font-size: x-small;">- Basta! Clama o chefe dos Timbiras,<br />- Basta, guerreiro ilustre! Assaz lutaste,<br />E para o sacrifício é mister forças. -</span></blockquote>
<blockquote align="CENTER">
<span style="font-family: Bookman Old Style; font-size: x-small;">O guerreiro parou, caiu nos braços<br />Do velho pai, que o cinge contra o peito,<br />Com lágrimas de júbilo bradando:<br />"Este, sim, que é meu filho muito amado!</span></blockquote>
<blockquote align="CENTER">
<span style="font-family: Bookman Old Style; font-size: x-small;">"E pois que o acho enfim, qual sempre o tive,<br />"Corram livres as lágrimas que choro,<br />"Estas lágrimas, sim, que não desonram."</span></blockquote>
</div>
<h2 align="center" style="-webkit-text-stroke-width: 0px; color: black; font-family: "Times New Roman"; font-style: normal; font-variant-caps: normal; font-variant-ligatures: normal; letter-spacing: normal; orphans: 2; text-indent: 0px; text-transform: none; white-space: normal; widows: 2; word-spacing: 0px;">
<span style="font-family: Bookman Old Style; font-size: x-small;">X</span></h2>
<b><span style="font-size: medium;"></span></b><br />
<div align="center">
<blockquote align="CENTER">
<span style="font-family: Bookman Old Style; font-size: x-small;">Um velho Timbira, coberto de glória,<br />Guardou a memória<br />Do moço guerreiro, do velho Tupi!<br />E à noite, nas tabas, se alguém duvidava<br />Do que ele contava,<br />Dizia prudente: - "Meninos, eu vi!</span></blockquote>
<blockquote align="CENTER">
<span style="font-family: Bookman Old Style; font-size: x-small;">"Eu vi o brioso no largo terreiro<br />Cantar prisioneiro<br />Seu canto de morte, que nunca esqueci:<br />Valente, como era, chorou sem ter pejo;<br />Parece que o vejo,<br />Que o tenho nest’hora diante de mi.</span></blockquote>
<blockquote align="CENTER">
<span style="font-family: Bookman Old Style; font-size: x-small;">"Eu disse comigo: Que infâmia d’escravo!<br />Pois não, era um bravo;<br />Valente e brioso, como ele, não vi!<br />E à fé que vos digo: parece-me encanto<br />Que quem chorou tanto,<br />Tivesse a coragem que tinha o Tupi!"</span></blockquote>
<blockquote align="CENTER">
<span style="font-family: Bookman Old Style; font-size: x-small;">Assim o Timbira, coberto de glória,<br />Guardava a memória<br />Do moço guerreiro, do velho Tupi.<br />E à noite nas tabas, se alguém duvidava<br />Do que ele contava,<br />Tornava prudente: "Meninos, eu vi!".</span></blockquote>
<div>
<span style="font-family: Bookman Old Style; font-size: x-small;"><br /></span></div>
</div>
Julia Lemoshttp://www.blogger.com/profile/14593618660413328268noreply@blogger.com0